quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Pilates na Assistência a Pessoas com Neuropatia Periférica Diabética

Pilates na Assistência a Pessoas com Neuropatia Periférica Diabética






A neuropatia periférica (NP), como o próprio nome sugere, é uma condição que afeta os nervos periféricos, podendo ser uma complicação a longo prazo em pacientes com Diabetes.
É um tipo de transtornos em qual ou todos os elementos do sistema nervoso periférico estão danificados, elementos esses que são responsáveis por encaminhar informações do cérebro e da medula espinhal para o restante do corpo, afetando principalmente a mielina, o axônio (a fibra nervosa central) ou uma mistura dos dois. (1)
Pacientes com neuropatia periférica geralmente desenvolvem sintomas de dormência ou sensação alterada nas extremidades (distais) e progredindo para mais áreas proximais com o avanço doença.
A força é afetada quando os nervos motores estão envolvidos, podendo levar a atrofia muscular, com possível geração de deformidades ortopédicas nos pés. (1)
No caso de acometimento motor, os sintomas referidos são fraqueza, instabilidade, quedas e dificuldades na marcha. (2) Na avaliação, os reflexos motores podem estar ausentes ou reduzidos. (1) Essas deficiências sensórias e motoras distais específicas, são a principal causa da instabilidade postural encontrada nesses indivíduos. (3)
A diminuição da mobilidade do tornozelo está associada à alteração da distribuição de pressão plantar, que por sua vez tem relação direta com o surgimento de ulcerações nas plantas dos pés. (2)

Exercício Físico na Neuropatia Periférica Diabética

Estudos vêm sugerindo que a prática de exercícios físicos, estão associadas à melhora significativa no que se refere à:
  • Força Muscular
  • Capacidade Funcional
  • Equilíbrio Estático e Dinâmico
  • Fadiga Muscular
  • Maior Independência nas AVD’s
  • Menor Risco de Quedas
  • Menor Risco de Adquirir Ulcerações nas Plantas dos Pés
Recomenda-se a combinação de exercícios aeróbicos, funcionais e exercícios de fortalecimento para grupos musculares específicos, porém ainda não existe um consenso geral sobre o assunto.
Os exercícios sugeridos nos artigos estudados sugerem ênfase em exercícios de alongamento com isquiotibiais, tríceps sural e tibial anterior, assim como exercícios de fortalecimento com resistência progressiva e moderada para:
  1. Músculos Intrínsecos do Pé
  2. Dorsi Flexores
  3. Inversores e Eversores do Complexo Tornozelo-Pé
  4. Flexores e Extensores de Quadril
Exercícios de equilíbrio/propriocepção, exercícios funcionais que visem melhorar a marcha e atividades como subir e descer escadas, bem como melhorar o equilíbrio estático e dinâmico desses indivíduos. (1,2,3 e4)

Pilates na Neuropatia Periférica Diabética





Poucos estudos sobre o uso de exercícios físicos na Neuropatia periférica foram encontrados, e nenhum estudo utilizando o método Pilates como parte da terapia, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida, força de membros inferiores, equilíbrio estático e dinâmico e a marcha nesses indivíduos tem sido relatado na literatura. (5)
Porém, evidências científicas já demonstram que o Pilates vem sendo um recurso terapêutico muito procurado, por se tratar de um método criado que trabalha movimentos corporais com seis princípios: respiração, controle, concentração, precisão, fluidez e centralização, desta forma, integrando corpo e mente.
Os exercícios de Pilates foram projetados para trabalhar o corpo como um todo, promovendo melhora na postura, força, resistência, flexibilidade e equilíbrio. (5)
O Pilates foi criado na década de 20, por Joseph Pilates, que denominou o método como Contrologia, com o intuito de promover a verdadeira reeducação dos movimentos, pois não se separa corpo e mente.
Muitos estudos vêm comprovando os diversos benefícios que o método Pilates pode trazer como:
  • Melhora a Força Muscular (Sekendiz 2007, Pires 2005, Schroeder 2002)
  • Aumenta Resistência Abdominal (Gálvez, 2011)
  • Melhora do Equilíbrio e Diminuição do Risco de Quedas em Idosos (da Costa et al 2016)
  • Aumento da Consciência Corporal (Pires 2005)
  • Melhora da Resistência Física em Idosos (Placy, Kovach, Bognár 2012)
  • Controle Muscular e Postural (Kuo 2010)
  • Melhora da Estabilidade Lombo-Pélvica (Phrompaet 2011)
  • Entre Outros
Sendo assim, resolvi trazer minha experiência profissional e pessoal nesse tema, com um estudo de caso, de um paciente atendido no meu Studio Nova Postura, localizado em Brotas/SP.

Estudo de Caso

  1. Paciente Homem
  2. 66 anos
  3. Diagnóstico de DM e Neuropatia Periférica
Em avaliação física, não apresenta nenhuma alteração dermatológica (úlceras, queimaduras, bolhas, rachaduras e/ou peles ressecadas ou descamadas).
No ato da admissão, apresenta pele fria e reluzente em membros inferiores e diminuição de pêlos, com claudicação intermitente, com relato de dor forte no membro inferior esquerdo (à noite e ao repouso), sensibilidade tátil e vibratória alterada em membros inferiores e normais em membros superiores na avaliação.
Reflexo de aquileu ausente e patelar diminuído, força muscular de tornozelo e pé em membros inferiores diminuídos.
Eletroneuromiografia com o seguinte laudo: poli neuropatia periférica crônica (axonal e desmielizante), primariamente axonal, sensitiva e motora nos 4 membros com predomínio distal.
  • SENSITIVA: leve a moderada em membros superiores e acentuada em membros inferiores.
  • MOTORA: discreta a leve proximal em membros inferiores e superiores, moderada distalmente em membros superiores e acentuada distalmente em membros inferiores.

Objetivos

Queixa Principal do Paciente
Paciente na admissão queixou-se de falta de equilíbrio ao se locomover e ao ficar parado, dor de grau 10 em membro inferior esquerdo e que o pé não responde ao seu “comando” tropeçando constantemente.
Objetivo do Paciente
Diminuir a dor, melhorar a força em membros inferiores e a marcha.
Objetivo do Terapeuta
Aumento de força global com ênfase em membro inferior e tronco, melhora do equilíbrio estático e dinâmico e melhora do padrão de marcha.

Cuidados Especiais

– Orientação sobre alimentação correta e autocuidados com pé.
– Antes de cada terapia verificar presença de lesões em membro inferiores e pé, bem como nível de glicemia desse paciente.

Exercícios Propostos






1) Alongamento Global

  • Cadillac
    • Spine Stretch (Sentado e em Pé)
    • Swan
    • Tower (Running e Glúteo/Piriforme)
    • Mermaid
  • Barrel
    • Stretches Front e Back
  • Chair
    • Hamstring Stretch (Variações)
    • Mobilidade
    • Alongamento de Tornozelo
  • Reformer Torre
    • Alongamento de Membros Inferiores Unilaterais e Bilaterais
    • Running
    • Front Splits
  • Espaldar
    • Alongamento de Cadeia Posterior e Cadeia Lateral

2) Fortalecimento Global com Ênfase em Membros Inferiores, Abdômen, Eretores da Coluna e Glúteo

  • Cadillac
    • Leg Series (Variações)
    • Tower (Bridge, Running)
    • Rolling Back
    • Arms Push Up and Down
    • Hug a Tree
    • Arms Open/Bíceps/Tríceps
  • Barrel
    • Sit Up (Com Acessórios)
  • Chair
    • Footwork (Variações Sentado e Em Pé)
    • Bridge
  • Reformer
    • Footworks (Variações e Uso de Acessórios)
    • Front Splits
    • Arms (Variações)
    • Long Box (Variações)
    • The Hundred (Deitado e 6 Apoios)
  • Solo
    • Brigde (Bosu e Bola)
    • The Cat
    • Mobilizações de Coluna e Tornozelos com Acessórios (Bolas, Disco de Equilíbrio)
    • Fortalecimento de Membros Inferiores com Acessórios (Magic Circle, Theraband e Mini Band)
    • The Hundred (Com Acessórios)
  • Exercícios Proprioceptivos e de Equilíbrio
    • Uso de Bosu
    • Disco de Equilíbrio
    • Caixas
  • Treino de Marcha na Esteira
*Exercícios resistidos com progressão lenta e de intensidade moderada, evitando sobrecarga ou fadiga muscular.

Concluindo…






O Pilates demonstrou-se eficaz na assistência do indivíduo portador de Neuropatia Periférica Diabética, diminuindo a dor e atenuando os sintomas (dormência, formigamento e dor).
Além de estar melhorando a funcionalidade de membro inferior pelo ganho de mobilidade articular, função muscular de membro inferior (força, equilíbrio estático e dinâmico) melhorando padrão da marcha.
Podemos concluir que o método Pilates pode ser eficaz na melhora da qualidade de vida desses indivíduos, prevenindo incapacidades decorrentes da patologia.
Porém, sugerimos novos estudos com um grupo maior a fim de comprovar o real beneficio do método.