Pilates na Assistência a Pessoas com Neuropatia Periférica Diabética
A neuropatia periférica (NP), como o próprio nome sugere, é uma condição que afeta os nervos periféricos, podendo ser uma complicação a longo prazo em pacientes com Diabetes.
É um tipo de transtornos em qual ou todos os elementos do sistema nervoso periférico estão danificados, elementos esses que são responsáveis por encaminhar informações do cérebro e da medula espinhal para o restante do corpo, afetando principalmente a mielina, o axônio (a fibra nervosa central) ou uma mistura dos dois. (1)
Pacientes com neuropatia periférica geralmente desenvolvem sintomas de dormência ou sensação alterada nas extremidades (distais) e progredindo para mais áreas proximais com o avanço doença.
A força é afetada quando os nervos motores estão envolvidos, podendo levar a atrofia muscular, com possível geração de deformidades ortopédicas nos pés. (1)
No caso de acometimento motor, os sintomas referidos são fraqueza, instabilidade, quedas e dificuldades na marcha. (2) Na avaliação, os reflexos motores podem estar ausentes ou reduzidos. (1) Essas deficiências sensórias e motoras distais específicas, são a principal causa da instabilidade postural encontrada nesses indivíduos. (3)
A diminuição da mobilidade do tornozelo está associada à alteração da distribuição de pressão plantar, que por sua vez tem relação direta com o surgimento de ulcerações nas plantas dos pés. (2)
Exercício Físico na Neuropatia Periférica Diabética
Estudos vêm sugerindo que a prática de exercícios físicos, estão associadas à melhora significativa no que se refere à:
- Força Muscular
- Capacidade Funcional
- Equilíbrio Estático e Dinâmico
- Fadiga Muscular
- Maior Independência nas AVD’s
- Menor Risco de Quedas
- Menor Risco de Adquirir Ulcerações nas Plantas dos Pés
Recomenda-se a combinação de exercícios aeróbicos, funcionais e exercícios de fortalecimento para grupos musculares específicos, porém ainda não existe um consenso geral sobre o assunto.
Os exercícios sugeridos nos artigos estudados sugerem ênfase em exercícios de alongamento com isquiotibiais, tríceps sural e tibial anterior, assim como exercícios de fortalecimento com resistência progressiva e moderada para:
- Músculos Intrínsecos do Pé
- Dorsi Flexores
- Inversores e Eversores do Complexo Tornozelo-Pé
- Flexores e Extensores de Quadril
Exercícios de equilíbrio/propriocepção, exercícios funcionais que visem melhorar a marcha e atividades como subir e descer escadas, bem como melhorar o equilíbrio estático e dinâmico desses indivíduos. (1,2,3 e4)
Pilates na Neuropatia Periférica Diabética
Poucos estudos sobre o uso de exercícios físicos na Neuropatia periférica foram encontrados, e nenhum estudo utilizando o método Pilates como parte da terapia, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida, força de membros inferiores, equilíbrio estático e dinâmico e a marcha nesses indivíduos tem sido relatado na literatura. (5)
Porém, evidências científicas já demonstram que o Pilates vem sendo um recurso terapêutico muito procurado, por se tratar de um método criado que trabalha movimentos corporais com seis princípios: respiração, controle, concentração, precisão, fluidez e centralização, desta forma, integrando corpo e mente.
Os exercícios de Pilates foram projetados para trabalhar o corpo como um todo, promovendo melhora na postura, força, resistência, flexibilidade e equilíbrio. (5)
O Pilates foi criado na década de 20, por Joseph Pilates, que denominou o método como Contrologia, com o intuito de promover a verdadeira reeducação dos movimentos, pois não se separa corpo e mente.
Muitos estudos vêm comprovando os diversos benefícios que o método Pilates pode trazer como:
- Melhora a Força Muscular (Sekendiz 2007, Pires 2005, Schroeder 2002)
- Aumenta Resistência Abdominal (Gálvez, 2011)
- Melhora do Equilíbrio e Diminuição do Risco de Quedas em Idosos (da Costa et al 2016)
- Aumento da Consciência Corporal (Pires 2005)
- Melhora da Resistência Física em Idosos (Placy, Kovach, Bognár 2012)
- Controle Muscular e Postural (Kuo 2010)
- Melhora da Estabilidade Lombo-Pélvica (Phrompaet 2011)
- Entre Outros
Sendo assim, resolvi trazer minha experiência profissional e pessoal nesse tema, com um estudo de caso, de um paciente atendido no meu Studio Nova Postura, localizado em Brotas/SP.
Estudo de Caso
- Paciente Homem
- 66 anos
- Diagnóstico de DM e Neuropatia Periférica
Em avaliação física, não apresenta nenhuma alteração dermatológica (úlceras, queimaduras, bolhas, rachaduras e/ou peles ressecadas ou descamadas).
No ato da admissão, apresenta pele fria e reluzente em membros inferiores e diminuição de pêlos, com claudicação intermitente, com relato de dor forte no membro inferior esquerdo (à noite e ao repouso), sensibilidade tátil e vibratória alterada em membros inferiores e normais em membros superiores na avaliação.
Reflexo de aquileu ausente e patelar diminuído, força muscular de tornozelo e pé em membros inferiores diminuídos.
Eletroneuromiografia com o seguinte laudo: poli neuropatia periférica crônica (axonal e desmielizante), primariamente axonal, sensitiva e motora nos 4 membros com predomínio distal.
- SENSITIVA: leve a moderada em membros superiores e acentuada em membros inferiores.
- MOTORA: discreta a leve proximal em membros inferiores e superiores, moderada distalmente em membros superiores e acentuada distalmente em membros inferiores.
Objetivos
Queixa Principal do Paciente
Paciente na admissão queixou-se de falta de equilíbrio ao se locomover e ao ficar parado, dor de grau 10 em membro inferior esquerdo e que o pé não responde ao seu “comando” tropeçando constantemente.
Objetivo do Paciente
Diminuir a dor, melhorar a força em membros inferiores e a marcha.
Objetivo do Terapeuta
Aumento de força global com ênfase em membro inferior e tronco, melhora do equilíbrio estático e dinâmico e melhora do padrão de marcha.
Cuidados Especiais
– Orientação sobre alimentação correta e autocuidados com pé.
– Antes de cada terapia verificar presença de lesões em membro inferiores e pé, bem como nível de glicemia desse paciente.
Exercícios Propostos
1) Alongamento Global
- Cadillac
- Spine Stretch (Sentado e em Pé)
- Swan
- Tower (Running e Glúteo/Piriforme)
- Mermaid
- Barrel
- Stretches Front e Back
- Chair
- Hamstring Stretch (Variações)
- Mobilidade
- Alongamento de Tornozelo
- Reformer Torre
- Alongamento de Membros Inferiores Unilaterais e Bilaterais
- Running
- Front Splits
- Espaldar
- Alongamento de Cadeia Posterior e Cadeia Lateral
2) Fortalecimento Global com Ênfase em Membros Inferiores, Abdômen, Eretores da Coluna e Glúteo
- Cadillac
- Leg Series (Variações)
- Tower (Bridge, Running)
- Rolling Back
- Arms Push Up and Down
- Hug a Tree
- Arms Open/Bíceps/Tríceps
- Barrel
- Sit Up (Com Acessórios)
- Chair
- Footwork (Variações Sentado e Em Pé)
- Bridge
- Reformer
- Footworks (Variações e Uso de Acessórios)
- Front Splits
- Arms (Variações)
- Long Box (Variações)
- The Hundred (Deitado e 6 Apoios)
- Solo
- Brigde (Bosu e Bola)
- The Cat
- Mobilizações de Coluna e Tornozelos com Acessórios (Bolas, Disco de Equilíbrio)
- Fortalecimento de Membros Inferiores com Acessórios (Magic Circle, Theraband e Mini Band)
- The Hundred (Com Acessórios)
- Exercícios Proprioceptivos e de Equilíbrio
- Uso de Bosu
- Disco de Equilíbrio
- Caixas
- Treino de Marcha na Esteira
*Exercícios resistidos com progressão lenta e de intensidade moderada, evitando sobrecarga ou fadiga muscular.
Concluindo…
O Pilates demonstrou-se eficaz na assistência do indivíduo portador de Neuropatia Periférica Diabética, diminuindo a dor e atenuando os sintomas (dormência, formigamento e dor).
Além de estar melhorando a funcionalidade de membro inferior pelo ganho de mobilidade articular, função muscular de membro inferior (força, equilíbrio estático e dinâmico) melhorando padrão da marcha.
Podemos concluir que o método Pilates pode ser eficaz na melhora da qualidade de vida desses indivíduos, prevenindo incapacidades decorrentes da patologia.
Porém, sugerimos novos estudos com um grupo maior a fim de comprovar o real beneficio do método.